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Artigo escrito por: Claudio Batista Reis

Analista Desenvolvedor Sênior | Mestrando em Informática e Gestão do Conhecimento | TopSaúde Hub

O setor de saúde suplementar no Brasil não é mais o mesmo de cinco anos atrás. Entre 2019 e 2024, a pandemia acelerou mudanças estruturais profundas, levando o mercado a um novo nível de complexidade.

Hoje, o setor opera com um recorde de 51,7 milhões de beneficiários, mas não é apenas o número de vidas que mudou: a própria lógica de uso dos serviços foi reinventada. Para operadoras e gestores, entender esse novo cenário é o primeiro passo para garantir a competitividade e a sustentabilidade diante das novas demandas regulatórias, assistenciais e financeiras.

Mais vidas, novos hábitos: prevenção e cuidado contínuo

O crescimento de 10% no número de beneficiários tem duas explicações principais: a retomada do emprego formal, que impulsionou os planos coletivos, e uma nítida mudança cultural pós-pandemia, que consolidou o plano de saúde como um item essencial para a segurança familiar.

Contudo, a mudança mais significativa está no perfil de utilização. O beneficiário de hoje está mais atento à prevenção e a modelos de cuidado menos focados em hospitais.

Os dados de utilização assistencial confirmam essa transição:

  • O volume de exames diagnósticos disparou 28,3%, indicando uma busca ativa pela prevenção.
  • A procura por atendimentos com psicólogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos aumentou quase 16%, em parte estimulada pelas novas regras de cobertura da ANS.
  • Ao mesmo tempo, sessões de terapias complexas, como a quimioterapia, caíram 16,5%, refletindo a adoção de tecnologias mais eficazes, como a imunoterapia.

Esses números apontam para um modelo assistencial mais inteligente e focado no cuidado integral.

A tensão por trás do equilíbrio financeiro

Apesar da evolução no cuidado, a sustentabilidade financeira do setor ainda é delicada. A recuperação do lucro das operadoras em 2024 esconde tensões significativas com custos, reajustes, a crescente judicialização e o controle da sinistralidade.

A principal fonte de desgaste para a imagem das operadoras é a diferença na regulação dos reajustes: planos individuais são minoria e possuem reajustes com teto definido pela ANS. Já os planos coletivos representam mais de 80% dos contratos e têm reajustes livres, que são percebidos como excessivos por muitos consumidores.

O outro grande ponto de pressão é o aumento do contencioso judicial. O número de ações judiciais contra operadoras quase dobrou entre 2020 e 2024.

Essas ações geram custos imprevisíveis que não afetam apenas a operadora; eles são diluídos e acabam impactando as mensalidades pagas por todos os beneficiários do sistema.

A mudança inevitável: do volume ao valor

A pressão nos custos e a insatisfação com os reajustes apontam para um problema central: o modelo de remuneração.

O modelo dominante, o fee-for-service (pagamento por volume de procedimentos), é considerado o principal motor da inflação dos custos na saúde. Ele recompensa a quantidade de procedimentos, e não necessariamente a qualidade ou o resultado do cuidado.

Superar esse modelo exige uma reestruturação completa da lógica assistencial e dos contratos. O futuro, já em curso e sinalizado pela ANS, são os modelos baseados em valor (VBHC – Value-Based Health Care).

Nessa nova lógica:

  • A remuneração é atrelada a resultados clínicos e eficiência.
  • O foco se desloca do procedimento para o paciente.
  • O incentivo é o desfecho positivo e a prevenção, e não a repetição de tratamentos.

Para onde vamos? A tecnologia como chave da transformação

Implementar um modelo baseado em valor não é uma simples mudança contratual. É uma transformação que exige, acima de tudo, tecnologia, dados integrados e alta capacidade analítica.

Para as operadoras, essa jornada significa:

  1. Investir em sistemas de gestão (ERPs) preparados para modelos flexíveis de remuneração.
  2. Monitorar indicadores de desfecho e qualidade assistencial usando ferramentas de BI e IA.
  3. Automatizar processos e fluxos regulatórios para garantir conformidade com a ANS e liberar as equipes para o foco no cuidado.

A saúde suplementar acelerou transformações que pareciam distantes. Adaptar-se rapidamente é o único caminho para a sustentabilidade da operação. Quem permanecer preso a modelos antigos, fragmentados e baseados em volume, corre o risco de perder competitividade e viabilidade econômica.

Na TopSaúde HUB, acompanhamos essa transformação de perto, desenvolvendo soluções de gestão que apoiam as operadoras na jornada rumo à saúde baseada em valor.

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Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Painel Econômico-Financeiro da Saúde Suplementar. Rio de Janeiro: ANS, 2024. Recurso eletrônico. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMjM4YTYyMDEtMmRjMS00NWFhLWFkMTEtMDk0YmMzZTk2YzZkIiwidCI6IjlkYmE0ODBjLTRmYTctNDJmNC1iYmEzLTBmYjEzNzVmYmU1ZiJ9. Acesso em: out. 2025.

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Mapa Assistencial da Saúde Suplementar. Rio de Janeiro: ANS. Publicação anual. Recurso eletrônico.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Sistema de Metas para Inflação: Taxa Selic – Histórico. Brasília: Banco Central do Brasil, 2024. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: out. 2025.

BRASIL. Lei nº 9.656, de 03 de junho de 1998. Dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 04 jun. 1998.

BRASIL. Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000. Cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 29 jan. 2000.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Justiça em Números. Brasília, DF: CNJ. Publicação anual.

IESS – INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Análise econômico-financeira dos planos de assistência médica no Brasil (2018-2024): impactos da pandemia e perspectivas de recuperação. Texto para Discussão nº 104. São Paulo: IESS, 2024. 9 p.

YOUTUBE – AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Webinário – Painel Econômico-Financeiro – 1º trimestre de 2024. 12 jun. 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xTEkw5SiSxo. Acesso em: out. 2025.

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