A Notificação de Intermediação Preliminar (NIP) deixou de ser apenas um canal de reclamação: tornou-se insumo regulatório. Com as recentes alterações normativas, as informações que chegam pela NIP passam a alimentar indicadores e orientar fiscalizações. Para operadoras, isso exige tanto ajuste operativo quanto postura estratégica.
Neste artigo, você vai entender por que a NIP se tornou peça central na regulação da ANS, como ela impacta diretamente os indicadores das operadoras, quais são os principais desafios do novo cenário e, principalmente, o que fazer agora para transformar esse risco regulatório em uma oportunidade de melhoria contínua e vantagem competitiva.
Por que a NIP passou a importar tanto?
A NIP passou a alimentar índices usados pela ANS para monitorar desempenho e priorizar ações. Ou seja: a percepção do beneficiário não é mais apenas um sinal — ela pode influenciar decisões que têm efeito reputacional, regulatório e até financeiro. Entender esse movimento é essencial para evitar surpresas.
Duas resoluções recentes têm papel central nessa transição:
- RN nº 483/2022: padronizou prazos e fluxos para o tratamento das demandas;
- RN nº 579/2023: simplificou a classificação das notificações e redefiniu critérios para o prosseguimento das demandas em processos sancionadores.
Essas mudanças reposicionaram a NIP como insumo para uma regulação mais preventiva e baseada em evidências.
Como os dados da NIP são usados (e o que mudou)?
Os registros da NIP alimentam indicadores relevantes do setor, como o IDSS (Índice de Desempenho da Saúde Suplementar), o IGR (Índice Geral de Reclamações) e a TIR (Taxa de Intermediação Resolvida). Esses indicadores são ferramentas para comparar operadoras, priorizar fiscalizações e oferecer maior transparência ao público.
O que efetivamente mudou:
- Fases simplificadas: a tramitação da NIP foi enxuta, com critérios mais objetivos para encaminhamento a processos administrativos.
- Peso da percepção do usuário: reclamações têm mais chance de impactar indicadores setoriais.
- Risco de efeitos automáticos: sem salvaguardas técnicas, relatos pontuais podem gerar consequências antes de uma avaliação aprofundada.
Benefícios na prática
Além dos benefícios regulatórios, há ganhos operacionais e financeiros. A gestão inteligente das NIPs contribui para:
- Detecção precoce de problemas operacionais que, se ignorados, evoluem para risco maior.
- Maior transparência do desempenho das operadoras perante consumidores e mercado.
- Oportunidade de resolver conflitos em âmbito administrativo, reduzindo judicializações.
Principais desafios para as operadoras
A adaptação ao novo papel da NIP traz desafios que vão além da simples resposta operacional. As operadoras enfrentam questões estruturais e estratégicas que, se não forem tratadas com agilidade, podem comprometer sua reputação e até gerar sanções regulatórias.
Entre elas, destacam-se:
- Qualidade e consistência dos registros: reclamações sem dados ou evidência dificultam a defesa e a correção.
- Interpretação equivocada dos indicadores: aumento de registros pode refletir maior uso do canal, não queda de qualidade.
- Proteção jurídica: decisões regulatórias baseadas apenas em percepção do usuário podem ser contestadas.
Checklist prático: o que fazer já (passos imediatos)
Diante do novo cenário, não basta reagir, é necessário antecipar. A preparação passa por revisão de processos, adoção de tecnologia e fortalecimento da governança da informação.
Abaixo, alguns passos práticos que podem ser implementados de forma ágil para garantir conformidade, eficiência e inteligência na gestão das NIPs:
- Revisar e padronizar rotinas de atendimento: scripts de registro que garantam dados minimamente necessários (datas, comprovantes, atendentes envolvidos, providências).
- Registrar evidências: anexos, protocolos de autorizações, laudos e mensagens que comprovem a atuação.
- Monitorar indicadores internos: crie painéis que mostrem resolutividade, tempo médio de resposta e reincidência por tipo de demanda.
- Capacitar equipes: treinamentos focados em qualidade de registro e técnicas de mediação.
- Implantar governança de dados: auditoria de registros e processos para garantir integridade das informações exportadas à ANS.
- Comunicar proativamente: quando pertinente, notifique prestadores e beneficiários sobre medidas corretivas adotadas — isso melhora a resolutividade e a percepção.
O que se espera da ANS (e por que isso importa)
Para equilibrar a voz do beneficiário com segurança jurídica e técnica, são desejáveis:
- Critérios de triagem mais robustos que reduzam a chance de efeitos automáticos;
- Transparência metodológica sobre como os indicadores são construídos;
- Mecanismos de revisão técnica antes de impactos regulatórios relevantes.
Esses aperfeiçoamentos aumentam previsibilidade e reduzem contestações, beneficiando todo o ecossistema.
Conclusão — equilíbrio é a chave
Dar voz ao beneficiário é um avanço. Mas para que esse avanço produza resultado real e sustentável, é necessário equilíbrio: dados melhores, critérios claros e governança interna sólida.
Operadoras que agirem agora, com rotinas robustas e foco em qualidade da informação, estarão menos expostas a riscos e mais preparadas para transformar reclamações em oportunidades de melhoria.
Quer entender como a sua operadora pode se adaptar rapidamente a esse novo cenário, com mais automação, inteligência e segurança regulatória?